Archi Efficient

logoae
logoae

Casas do Brasil: o olhar poético de fotógrafos sobre o morar brasileiro

Durante 2024, a Casa e Jardim convidou renomados fotógrafos para compartilharem suas visões sobre a arquitetura brasileiras nos mais diversos e remotos estados do país

Das casas de taipa e pau a pique às charmosas construções de Paraty, a arquitetura brasileira reflete bem as características do país: um mix de culturas e saberes que resulta em um estilo diverso, repleto de cores, formas e riquezas.

Durante 2024, a Casa e Jardim convidou renomados fotógrafos para ilustrarem esse morar brasileiro através de seus olhares, que retratam de forma poética a arquitetura e também eternizam momentos etéreos de construções que sobreviveram ao tempo e às intervenções. Confira abaixo todos os cliques publicados no ano:

Kiolo

Casa em Cachoeira, na Bahia — Foto: Kiolo/Editora Globo
Casa em Cachoeira, na Bahia — Foto: Kiolo/Editora Globo

Como fotógrafo, me habituei a caminhar pelas cidades para onde viajo com o meu olhar-radar, em busca de detalhes, enquadramentos e composições inusitadas. Mas foi visitando Cachoeira, na Bahia, em 2014, cidade tão próxima à minha terra natal, Salvador, que me deparei com esse ângulo. Nele, há três importantes elementos para mim: um lindo fusca na porta de uma casa em estilo colonial na cidade onde nasceu meu pai. Minhas duas paixões, carros e arquitetura, se abraçavam com a saudade diária do meu velho. Durante algum tempo me perguntei quem moraria ali. Criei histórias e escolhi deixar a cargo da minha imaginação. Volta e meia mudo o enredo, crio novos personagens e sinto vontade de voltar lá.

— Kiolo, fotógrafo (@kiolo)

André Nazareth

Casa em Belmonte — Foto: André Nazareth/Editora Globo
Casa em Belmonte — Foto: André Nazareth/Editora Globo

Localizada na foz do rio Jequitinhonha, Belmonte apresenta uma curiosa vegetação manguezal em torno dos típicos coqueirais do sul da Bahia. Tal encontro do rio com o mar permitiu à cidade se transformar em um importante centro econômico do ciclo do cacau no fim do século 19 e desenvolver um patrimônio arquitetônico considerável. Tinha vontade de conhecer esse refúgio ainda pouco explorado pelo turismo onde também nasceu José Zanine Caldas. Mas a surpresa maior ao circular pela cidade foi me deparar com uma interessante mistura de estilos, desde conservadas construções coloniais a uma quantidade considerável de casas simples coloridas e com inspirações indecifráveis.

— André Nazareth, fotógrafo (@andrenazarethfoto)

Mayra Azzi

Cidade de Pedras, comunidade na Chapada Diamantina — Foto: Mayra Azzi/Editora Globo
Cidade de Pedras, comunidade na Chapada Diamantina — Foto: Mayra Azzi/Editora Globo

Igatu, também conhecida como Xique-Xique do Igatu e Cidade de Pedras, é uma pequena comunidade com pouco mais de 500 habitantes na Chapada Diamantina, no sertão da Bahia — região que no início do século 20 foi um dos polos do garimpo no Brasil, chegando a ter mais de dez mil habitantes. Com a escassez de diamantes de fácil acesso, entrou em decadência, e a maioria da população abandonou a região em busca de melhores condições de vida. A vila se transformou em ruínas, onde hoje é um museu preservado a céu aberto. Algumas famílias resistiram e permaneceram em Igatu, que foi reconstruída mantendo a tradição do uso da pedra em suas casas, aproveitando as formações naturais das rochas e lajedos.

— Mayra Azzi, fotógrafa (@may_azzi_)

Wesley Diego

Casarão no Centro Histórico de São Luís, Maranhão — Foto: Wesley Diego/Editora Globo
Casarão no Centro Histórico de São Luís, Maranhão — Foto: Wesley Diego/Editora Globo

Talvez o que mais me encante em viajar só, mesmo que a trabalho, seja a possibilidade de andar em outro ritmo e notar o lugar por onde passo. Para nós, fotógrafos, essa observação é matéria-prima para a construção do olhar. O centro histórico de São Luís, MA, é esse local onde você pode desacelerar e fazer uma imersão cultural. Por lá, encontrei esse peculiar casarão do século 17, um tipo facilmente visto em outras cidades históricas pelo Brasil. Especialmente esse me fez voltar para um tempo que não vivi. Não sei ao certo o que me conectou a ele: se os tons de azul desbotados ou o vendedor de algodão-doce.

— Wesley Diego, fotógrafo (@wesleydiegoemes)

Marcelo Oséas

Casa no Vale do Catimbau, PE — Foto: Marcelo Oséas/Editora Globo
Casa no Vale do Catimbau, PE — Foto: Marcelo Oséas/Editora Globo

Vivenciar a cultura brasileira é um privilégio imensurável. Pude viajar pelo projeto Brasis Que Vi, do arquiteto Gabriel Fernandes, quando, juntos, visitamos o mestre artesão Zé Bezerra, no Vale do Catimbau, PE. Seu lar, construído com as próprias mãos, é uma representação do entorno e do orgulho por seu território. As telhas são artesanais; as paredes de pau a pique, feitas com o barro do quintal; as madeiras do telhado são típicas do bioma, a caatinga; e as figuras da fachada, aplicadas com cimento, são uma referência direta aos desenhos rupestres existentes no Catimbau, um dos maiores parques arqueológicos do nosso país.

— Marcelo Oséas, fotógrafo (@marcelooseas)

Maíra Acayaba

Casa de pau a pique — Foto: Maíra Acayaba/Editora Globo
Casa de pau a pique — Foto: Maíra Acayaba/Editora Globo

Em dezembro de 2021 fomos conhecer a Ilha do Ferro, vilarejo à beira do rio São Francisco, em Alagoas, que ficou conhecido pela sua produção de arte popular e do bordado Boa Noite e por suas casas coloridas com platibanda, uma mais linda que a outra. Dedé, logo nos primeiros dias na Ilha, nos convidou para uma vaquejada que acontecia perto dali. Para além da experiência maluca de vivenciar uma vaquejada por trás dos arbustos da Caatinga, fiquei encantada com a paisagem, a luz e o modo de vida simples do sertanejo, que constrói a sua história em uma casa de pau a pique, sob o sol e o silêncio do sertão.

— Maíra Acayaba, fotógrafa (@mairaacayaba)

Sebastião Salgado

Casa fotograda por Sebastião Salgado — Foto: Sebastião Salgado/Editora Globo
Casa fotograda por Sebastião Salgado — Foto: Sebastião Salgado/Editora Globo

Quando fiz essa fotografia, chovia intensamente. Uma casa indígena tradicional como essa, coberta de palha, tem uma capacidade incrível de proteção contra a penetração da umidade. É uma construção alta com uma porta pequena para ter o mínimo de luminosidade, porque na região existe um mosquito chamado pium, que só pica na luz. A casa protege dos insetos e da chuva. Tem a altura de um prédio entre dez e quinze andares e abriga várias famílias.”

— Sebastião Salgado, fotógrafo (@sebastiaosalgadooficial)

Álvaro Malheiros

Casa de taipa no Vale do Catimbau, no sertão pernambucano — Foto: Álvaro Malheiros/Editora Globo
Casa de taipa no Vale do Catimbau, no sertão pernambucano — Foto: Álvaro Malheiros/Editora Globo

Quantos ‘Brasis’ cabem no Brasil? Eu sempre me pergunto isso quando tenho a oportunidade de fotografar o interior do país. O Brasil profundo, aquele longe das capitais, me encanta. Essa foto foi tirada no Vale do Catimbau, coração do sertão pernambucano. Nele funcionava uma casa de farinha para moagem e torra de mandioca. A construção de argila, madeira e fibra, conhecida como casa de taipa, ainda é uma realidade para algumas pessoas da região. Não muito longe dali, alguns moradores chegam a passar 15 dias com apenas 4 mil litros de água (o equivalente a uma caixa-d’água) para sustentar a família e sua horta. Cada canto do Brasil revela, sem dúvidas, um universo próprio.

— Álvaro Malheiros, fotógrafo (@almalheiros)

Mariana Boro

Casa na Estrada Real, entre Tiradentes e Bichinho — Foto: Mariana Boro/Editora Globo
Casa na Estrada Real, entre Tiradentes e Bichinho — Foto: Mariana Boro/Editora Globo

No caminho entre Tiradentes e Bichinho, na Estrada Real, que emergiu no século 17, hoje, há casas e lojas de artesanato popular de simplicidade tocante. É comum no trajeto avistar artistas esculpindo pedra-sabão na frente dos seus lares. Os detalhes que cercam o seu cotidiano despertam em mim um sentimento de prazer. Na casa desta fotografia, que também funciona como espaço comercial, é inegável não se emocionar com as cenas comuns forjadas nos gestos rotineiros. A janela de madeira escancarada para o jardim revela o clima desbotado do dia. Também sugere que ali é lugar para conversar ou contemplar a paisagem apreciando um bom cafezinho.”

— Mariana Boro, fotógrafa (@marianaboro)

Cacá Bratke

Casa em Tiradentes, Minas Gerais — Foto: Cacá Bratke/Editora Globo
Casa em Tiradentes, Minas Gerais — Foto: Cacá Bratke/Editora Globo

Nestes últimos cinco anos, tenho ido a Tiradentes fotografar a Semana Criativa, um evento que une artesãos e designers a fim de incentivar o artesanato e o design brasileiro. Criei um carinho enorme pela cidade e pelos mineiros. As casas em Tiradentes por fora parecem singelas, brancas com suas janelas coloridas, mas quando você entra são espaçosas e, em geral, têm um jardim delicioso ao fundo. Esta casa sempre chama a minha atenção. Ela fica no caminho para a igreja da Matriz e é onde se inicia a rua Direita, uma das principais de Tiradentes. Impossível não passar por ela.

— Cacá Bratke, fotógrafa (@cacabratke)

Leia mais

O fotógrafo Marcelo Oséas mostra sua viagem pelo Vale do Jequitinhonha

Article Photo

Romulo Fialdini

Casa na  Ilha do Combu — Foto: Romulo Fialdini/Editora Globo
Casa na Ilha do Combu — Foto: Romulo Fialdini/Editora Globo

Roberta Maiorana, embaixadora de Belém do Pará em São Paulo – e também minha amiga –, em uma conversa que tivemos sobre a Ilha do Combu, me convidou para fotografar as casas da região que ela tinha visitado e achado incrível. Na comunidade, os maridos trabalham de barco durante o dia, e enquanto estão ausentes, o local é comandado pelas esposas. Elas aproveitam e dão um belo capricho nas residências. Os lares são bem decorados, com objetos simples, flores etc. Lá o que vale é a cor, então as casas refletem essa busca pelo colorido. A cozinha é o ambiente mais importante, e as panelas, bem areadas, ficam reluzentes – já que lá o que não falta é água!

— Romulo Fialdini, fotógrafo (@romulofialdini)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *